Patologia relacionada a sementes

Patologia relacionada a sementes: veja quais os fungos, bactérias, vírus e nematoides podem ser transmitidos por meio das sementes e como é feito o controle.

Você já teve problemas com doenças transmitidas por sementes na sua lavoura?

Sabia que os prejuízos causados por patologia em plantas podem chegar a perdas anuais de 28% em trigo, 15% em milho, 7% em arroz, 14% em soja, algodão e sorgo e 22% em feijão-vagem?

Pois é, as doenças de plantas são responsáveis por reduzir o potencial de produção agrícola de 15 a 20%.

Por isso, nada mais importante que saber quais são os patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes e o que podemos fazer para evitar e controlar.

Vamos iniciar esse tema entendendo o que estuda a patologia de sementes.

A patologia de sementes é o estudo de doenças de sementes. De uma forma mais ampla, pode ser definida como a parte da Agronomia que estuda as implicações que ocorrem devido a associação de patógenos com sementes.

O objetivo principal é controlar as doenças de plantas, nas quais os patógenos causadores (bactérias, vírus, fungos ou nematoides) podem ser propagados pelas sementes.

A semente possibilita ao patógeno a sobrevivência e a disseminação. Isso porque, a semente oferece uma maior proteção devido às camadas protetoras e as reservas nutritivas.

Alguns patógenos em sementes podem permanecer viáveis por longos períodos.

Por exemplo, o vírus causador do mosaico comum em feijoeiro pode ter uma longevidade de 30 anos, o vírus do mosaico comum do fumo por 9 anos em tomate, o vírus do mosaico estriado por 6,5 anos em cevada e o vírus do mosaico estriado da cevada por 3 anos em trigo.

Vamos ver agora alguns patógenos que podem ser transmitidos por sementes.

Patógenos transmitidos por sementes

Dentre os organismos que podem ser transmitidos pelas sementes, os mais numerosos são os fungos, em seguida as bactérias, vírus e depois alguns nematóides.

Na cultura da soja, os fungos Peronospora manshurica (causador do míldio) e Phomopsis sojae (causador da podridão seca) podem ser transmitidos pelas sementes.

Já, na cultura do feijão, os fungos Colletotrichum lindemuthianum (causador da antracnose) e Phomopsis sojae podem ser transmitidos por meio de sementes.

Abaixo separamos para você alguns patógenos que podem ser transmitidos por sementes:

Cultura hospedeira Fungo Doença
Soja Cercospora sojina

Sclerotinia sclerotiorum

Mancha-olho-de-rã

Mofo branco

Milho Diplodia maydis Podridão branca da espiga
Trigo Bipolaris sorokiniana

Ustilago tritici

Tilletia caries

Cochliobolus sativus

Gibberella zeae

Septoria nodorum

Mancha marrom

Carvão

Cárie

Helmintosporiose

Giberela

Mancha da gluma

Feijão Isariopsis griseola

Nematospora coryli

Mancha angular

Estigmatomicose

Algodão Verticillium albo-atrum Murcha de verticílio
Aveia Rhynchosporium secalis

Pyrenophora avenae

Escaldadura

Helmintosporiose

Girassol Botrytis cinerea

Sclerotinia sclerotiorum

Plasmopora halstedii

Mofo cinzento

Mofo branco

Míldio

Arroz Pyricularia oryzae

Rhynchosporium secalis

Phoma sorghina

Brusone

Escaldadura

Queima das glumelas

Centeio Claviceps purpurea Esporão-do-centeio
Amendoim Sclerotium rolfsii Mofo cinzento
Sorgo Sclerospora sorghi Míldio do sorgo

Tabela feita com base no livro Sementes: Ciência, Tecnologia e Produção. 5ed. 2012.

No caso das bactérias a grande maioria dos patógenos transmitidos por sementes estão inseridos nos gêneros Xanthomonas, Pseudomonas e Corynebacterium (Clavibacter). Alguns exemplos são listados abaixo:

  • Xanthomonas campestris campestris em crucíferas (podridão negra);
  • Xanthomonas campestris phaseoli em feijão (crestamento bacteriano);
  • Xanthomonas campestris malvacearum em algodão (mancha angular);
  • Pseudomonas phaseolicola em feijão (crestamento bacteriano aureolado);
  • Pseudomonas syringae glycinea em soja (crestamento bacteriano);
  • Pseudomonas lachrymans em cucurbitáceas (mancha angular);
  • Corynebacterium michiganense michiganense em tomate (cancro bacteriano).

Em relação aos vírus transmitidos por sementes estão os causadores de mosaicos comuns em tomate, leguminosas, alface, fumo e cucurbitáceas e o vírus do mosaico estriado na cultura da cevada.

Já, no caso dos nematoides, um exemplo a ser citado é o Aphelenchoides besseyi, causador da ponta branca em arroz.

Como acontece o transporte de patógenos pelas sementes?

Podemos definir aqui três formas de transporte de patógenos pelas sementes.

A primeira o patógeno está misturado ao lote de sementes.

Nesse caso o patógeno pode estar junto com as impurezas do lote de sementes, ou seja, junto com fragmentos vegetais, junto com partículas de solo ou ainda junto com sementes de plantas daninhas.

Alguns exemplos desse primeiro caso são quando o nematoide-do-cisto-da-soja fica junto dos torrões com as sementes, ou ainda, o fungo Sclerotinia sclerotiorum com sementes de soja.

A segunda forma de transporte dos patógenos é quando este fica aderido à superfície da semente, como no caso de Pyricularia oryzae em arroz.

Entretanto, o mais comum de acontecer é o transporte de patógenos no interior das sementes.

Alguns exemplos nessa terceira forma de transporte são:

  • espécies do gênero Ustilago nos cereais;
  • espécies do gênero Alternaria, Phomopsis, Septoria, Colletotrichum, Fusarium, Cercospora, Bipolaris e Drechslera em vários hospedeiros;
  • Aphelenchoides besseyi em arroz;
  • vírus do mosaico comum em alface;
  • vírus do mosaico comum em feijão;
  • Xanthomonas campestris phaseoli em feijão;
  • Xanthomonas campestris malvacearum em algodão.

Quais são os danos causados por patógenos associados a sementes?

Podemos dividir em três tipos de interferências:

  1. consumo do conteúdo celular do hospedeiro, o que acaba levando ao enfraquecimento;
  2. morte da célula ou distúrbio no metabolismo, que são provocados pelas toxinas dos patógenos;
  3. bloqueio do transporte de água e nutrientes.

No campo, os danos que podemos ver são murchas, tombamentos, manchas foliares, hipertrofias como galhas e verrugoses, podridões ou deformações.

Nas sementes, os danos provocados pelos patógenos reduzem o poder de germinação das sementes, podemos ver deformações, apodrecimentos, manchas necróticas.

Sementes de soja infectadas por fungos: canto superior esquerdo: Phomopsis sp.; canto superior direito: Fusarium pallidoroseum (Syn. semitectum); canto inferior esquerdo: Cercospora kikuchii; canto inferior direito: Colletotrichum truncatum. Fonte: José de Barros França-Neto et al. (2016).

Durante o armazenamento das sementes, os danos vão depender do controle dos fatores ambientais (temperatura e umidade relativa) durante o armazenamento e também das condições do lote.

Fungos, como Aspergillus e Penicillium, podem causar muitos danos às sementes durante o armazenamento, podendo depreciar a qualidade das sementes causando:

  • perda do poder germinativo;
  • descoloração e apodrecimento (reduz viabilidade, afeta valor comercial e nutritivo);
  • rancificação de óleos (aumento dos ácidos graxos);
  • aquecimento da massa de sementes (deterioração mais rápida devido ao aumento da taxa respiratória);
  • produção de micotoxinas.

Dentre os fungos que produzem toxinas podemos citar:

  • Aspergillus flavus;
  • Aspergillus candidus;
  • Aspergillus fumigatus;
  • Aspergillus ochreaceous;
  • Aspergillus niger;
  • Aspergillus parasiticus;
  • Penicillium islandicum;
  • Penicillium citrinum;
  • Penicillium rubrum;
  • Penicillium viriolicatum;
  • Penicillium puberulum.

Fungo de armazenagem, Aspergillus flavus, infectando semente de soja deteriorada.  Fonte: José de Barros França-Neto et al. (2016).

Como identificar no campo possíveis problemas com a introdução de inóculo?

Alguns pontos importantes para ficarmos atentos no campo são quando vemos plantas jovens doentes distribuídas aleatoriamente no campo. Isso pode ser uma possível introdução de um patógeno com a semente.

Já, se você notar reboleiras de plantas doentes no campo, isso pode ser um indicativo de contaminação do solo.

A baixa germinação de sementes também pode ser um indicativo da presença de patógenos na semente.

Por isso é muito importante a compra de sementes certificadas.

Em campos de produção de sementes são feitas várias medidas sanitárias no campo, inspeções periódicas e testes de sanidade em laboratório.

Como controlar os patógenos associados a sementes?

Em campos de produção de sementes os métodos de controle adotados são:

  • Seleção de cultivares (uso de cultivares resistentes ou tolerantes a patógenos);
  • Seleção de áreas (áreas livres de patógenos ou onde ele não consegue se estabelecer);
  • Práticas culturais (uso de sementes sadias, rotação de culturas, uso de fungicidas, eliminação de plantas hospedeiras);
  • Inspeções de campo (principalmente no florescimento e na pré-colheita).

Após a colheita os métodos de controle incluem:

  • Eliminação durante o beneficiamento;
  • Inativação de inóculo durante o armazenamento;
  • Indexação de sementes (testes de sanidade);
  • Tratamento direto de sementes (métodos biológico, físico e químico).

Conclusão

No texto de hoje você aprendeu sobre os patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes.

Também viu sobre como identificar possíveis problemas relacionados a patógenos de sementes no campo e como fazer para evitar.

O controle de patógenos é feito no campo e após a colheita.

É sempre importante a aquisição de sementes sadias pois elas passaram por rigorosas inspeções no campo.

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre patologia relacionada a sementes? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Giraldeli. Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (USP) e especialista em Agronegócios. Atualmente Professora da Colaboradora na UEL.

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