Banco de sementes de plantas daninhas no solo

Banco de sementes: entenda mais o que é, qual a importância, o que é a dormência de sementes e como o manejo do sistema interfere.

 

No texto de hoje você vai aprender mais sobre banco de sementes de plantas daninhas no solo.

Você sabia que ele é responsável por garantir novos fluxos de emergência de plantas daninhas na área?

Para entender melhor sobre o assunto, vamos ver a definição de banco de sementes, como são classificados, qual a sua importância e quais manejos podem interferir.

 

O que é banco de sementes?

O banco de sementes ou banco de propágulos do solo pode ser definido como qualquer parte de um organismo que possa dar origem a novos indivíduos da mesma espécie, de origem sexual (sementes) ou assexual (bulbos, tubérculos, rizomas…).

 

Qual a importância do banco de sementes?

O banco de sementes tem importância ecológica e agronômica.

A ecológica é que o banco de sementes no solo garante o suprimento de novos indivíduos e substitui indivíduos que desapareceram por causas naturais ou não.

A importância agronômica é que o banco de sementes garante futuras infestações, mesmo impedindo entradas de sementes na área.

Na imagem abaixo você pode ver como funciona a dinâmica de entrada e saída de sementes do banco de propágulos do solo.

Dinâmica do banco de sementes de plantas daninhas no solo.

Dinâmica do banco de sementes

Fonte: Lai et al. (2021).

 

Observe que as sementes e/ou propágulos entram por meio da chuva de sementes, ação antrópica, transporte por animais, vento e água.

Assim, toda vez que você deixa uma planta daninha produzir sementes na sua lavoura, você está ajudando ela a garantir novos indivíduos através da chuva de sementes.

Algumas práticas que você pode adotar para evitar a entrada de novas sementes na sua área são:

  • limpeza de máquinas e implementos agrícolas;
  • eliminar escapes de plantas daninhas;
  • fazer uma boa dessecação pré-plantio e plantar no limpo;
  • fazer o manejo de entressafra, não deixando a área em pousio;
  • limpeza de carreadores, cercas e canais de irrigação;
  • quarentena de animais;
  • uso de sementes e mudas certificadas (sem propágulos de plantas daninhas);
  • uso de esterco sem sementes e propágulos.

Sementes de carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum) e picão-preto (Bidens spp.) com estruturas que grudam na pelagem dos animais e na roupa dos trabalhadores.

Como podemos classificar o banco de sementes/propágulos?

Podemos classificá-los em dois grandes grupos: transitórios ou persistentes.

O banco de sementes transitório (ou prontamente germinável) é formado por sementes/propágulos com pouca longevidade, ou seja, sementes que podem permanecer viáveis por no máximo um ano.

Já o banco de sementes persistente tem longa longevidade, sendo composto por sementes com diferentes dormências e longevidades. Nesse caso podemos ainda classificar em longo prazo (mais de 5 anos) e curto prazo (menos de 5 anos).

Alguns exemplos que podem ser citados de sementes de plantas daninhas com longo prazo de longevidade de acordo com o trabalho de Burnside et al. (1996) são:

  • Datura stramonium (figueira-do-inferno): 90% de germinação das sementes após 17 anos;
  • Digitaria sanguinalis (capim-colchão): 43% de germinação após 4 anos;
  • Amaranthus retroflexus (caruru-gigante): 40% de germinação após 4 anos;
  • Rumex crispus (língua-de-vaca): 61% de germinação após 17 anos;
  • Xanthium strumarium (carrapichão): 21% de germinação após 9 anos.

A longevidade das sementes de plantas daninhas no solo é garantida pela dormência.

 

 Dormência das sementes das plantas daninhas

A dormência é regulada geneticamente, neste caso a semente não germina mesmo que todas as condições forem favoráveis.

Não confunda com quiescência, que é o repouso fisiológico, onde a semente não germina, pois alguma condição ambiental não é favorável (como água, luz ou temperatura).

A dormência contribui para a longevidade das espécies de plantas daninhas propagadas por sementes, já que a maioria destas espécies possui sementes com algum tipo de dormência.

Este fato contribui para a manutenção do banco de sementes destas espécies no solo, o que gera dificuldades no controle.

A dormência é também um mecanismo de sobrevivência. Uma mesma planta pode produzir sementes com diferentes níveis de dormência assegurando que vai prevalecer naquele sistema.

Existem várias causas da dormência de sementes, alguns exemplos são:

  • Embrião imaturo ou rudimentar Polygonum e Scirpus spp.;
  • Impermeabilidade do tegumento à água: “sementes duras” (Famílias Fabaceae, Malvaceae, Convolvulaceae e Solanaceae);
  • Impermeabilidade ao oxigênio (braquiárias);
  • Restrições mecânicas (Amaranthus retroflexus);
  • Embrião dormente (mostarda e Polygonum);
  • Dormência promovida por inibidores internos.

O mais comum é que a causa da dormência seja uma combinação de mais causas.

 

Densidade do banco de sementes

No geral, tem-se que a densidade de sementes/m² do solo é variável de acordo com o hábitat.

Normalmente, em ambientes onde o distúrbio é maior, a densidade de sementes/m² é maior. Assim, locais como áreas agrícolas vão ter maior número de sementes do que florestas, onde o distúrbio é menor.

O tamanho, a densidade (número de indivíduos/área) e a composição botânica do banco de sementes são variáveis de acordo com o histórico de uso da área e das práticas de manejo adotadas.

A quantidade de sementes de plantas daninhas no solo é abundante, na casa de milhares de sementes/m², o que resulta em milhões de sementes/ha.

A maior parte das sementes concentra-se na camada mais superficial do solo, por isso quando aplicamos um herbicida em pré-emergência, o ideal é que esse produto desça na camada de 0 a 10 cm, que é onde estão grande parte das sementes.

 

Composição do banco de sementes do solo

Podemos dividir em 3 grandes grupos:

  • 70 a 90% de espécies dominantes, são as mais nocivas;
  • 10 a 20% adaptadas a área geográfica;
  • Sementes recalcitrantes (não toleram a dessecação), sementes de culturas.

Essa informação mostra a importância do levantamento de plantas daninhas da área, pois uma vez que você identifique quais são as espécies dominantes, você saberá como planejar o controle focando nestas plantas.

 

Como o manejo do solo afeta o banco de sementes de plantas daninhas no solo?

O manejo integrado de plantas daninhas deve considerar estratégias que diminuam a adição de sementes via novas infestações, bem como tomar medidas que reduzam o banco de sementes ao longo do tempo.

semente-mamona

A semente de mamona (Ricinus communis) tem grande quantidade de reservas, o que garante que ela consiga germinar de uma profundidade maior e passar a barreira de palha. Além disso, a planta consegue arremessar a semente a uma distância de até 10 metros de distância da planta mãe, o que garante que ela colonize novos locais. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

O manejo do solo para plantio das culturas é um fator que pode influenciar o comportamento e o modo de germinação das sementes.

Os métodos de controle, como o mecânico e o químico, influenciam nas plantas daninhas que mais estarão adaptadas a estes manejos.

 

Conclusão

No texto de hoje você aprendeu mais sobre o banco de sementes/propágulos de plantas daninhas no solo.

A dormência das sementes garante futuros fluxos de emergência e, também, a sobrevivência da espécie naquele ambiente.

O banco de sementes tem influência das práticas de manejo adotadas, como o preparo do solo, ambientes compactados e métodos de controle de plantas daninhas.

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre banco de sementes de plantas daninhas? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Giraldeli. Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (USP) e especialista em Agronegócios. Atualmente Professora da Colaboradora na UEL.

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