Resistência: plantas daninhas e insetos

Plantas daninhas e insetos resistentes a defensivos agrícolas: veja quais os principais casos, opções de controle e como evitar de resistência.

O tema de plantas daninhas e de insetos resistentes a herbicidas tem chamado cada vez mais a atenção.

Isso porque, o custo com o controle acaba sendo maior em áreas com plantas daninhas e/ou insetos resistentes a defensivos agrícolas.

Neste texto vamos ver alguns casos de plantas daninhas e de insetos resistentes.

Plantas daninhas resistentes a herbicidas

No Brasil, hoje, temos 54 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas.

Destes, 18 casos são de resistência múltipla, ou seja, quando a planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes mecanismos de ação.

A figura abaixo mostra como acontece a seleção de plantas daninhas resistentes ao longo dos anos.

Observe que na natureza já existem biótipos resistentes, e com o uso repetitivo do mesmo herbicida ocorre o processo de seleção.

Christoffoleti e López-Ovejero (2008).

Dois conceitos que não podemos confundir é o de tolerância e resistência.

As plantas daninhas tolerantes são aquelas que não morrem com a dose de herbicida que seria letal para outras espécies.

Isso é uma característica da espécie, pois ela não morre com aquele herbicida mesmo que nunca tenha entrado em contato com ele antes.

Plantas tolerantes acabam sendo de difícil controle.

Alguns exemplos de plantas daninhas tolerantes a herbicidas são a trapoeraba, algumas cordas-de-viola, poaia-branca e erva-quente.

Essas espécies não morrem na dose recomendada de glyphosate, pois são tolerantes ao herbicida.

Uma planta pode ser tolerante a um herbicida por não absorver o herbicida, ou por não translocar o produto dentro da planta, ou ainda por transformar aquele produto em um composto não tóxico a ela.

São processos que chamamos de absorção diferencial, translocação diferencial e metabolismo diferencial.

Vamos ver agora alguns exemplos de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil.

Quais são as plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil?

As principais espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil são:

  • Buva;
  • Capim-amargoso;
  • Capim-pé-de-galinha;
  • Capim-arroz;
  • Leiteiro;
  • Carurus;
  • Azevém;
  • Picão-preto.

Há casos de resistência nas três espécies de buva (Conyza sumatrensis, C. bonariensis e C. canadensis).

A buva é uma espécie problemática em lavouras de soja, e plantas resistentes a glyphosate acabam dificultando o controle.

Conyza bonariensis.

A tabela abaixo relaciona os casos de buva resistentes a herbicidas no Brasil.

As linhas em vermelho representam casos de resistência múltipla.

Planta daninha Ano Herbicida
Conyza bonariensis 2005 glyphosate
Conyza canadensis 2005 glyphosate
Conyza sumatrensis 2010 glyphosate
Conyza sumatrensis 2011 chlorimuron
Conyza sumatrensis 2011 chlorimuron e glyphosate
Conyza sumatrensis 2016 paraquat
Conyza sumatrensis 2017 saflufenacil
Conyza sumatrensis 2017 chlorimuron, glyphosate e paraquat
Conyza sumatrensis 2017 2,4-D, diuron, glyphosate, paraquat e saflufenacil

 

Para o controle em áreas com buva resistente você pode adotar estratégias como:

  • rotacionar os ingredientes ativos utilizados;
  • rotação de culturas;
  • uso de herbicidas em pré-emergência;
  • não deixar a área em pousio;
  • controlar plantas ainda pequenas, com menos de 20 cm de altura;
  • mistura de herbicidas com o mesmo espectro de ação, mas com mecanismos de ação diferentes;
  • controlar escapes da buva, evitando que ela produza sementes, pois isso vai voltar para o banco de sementes do solo.

No caso do capim-amargoso (Digitaria insularis) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) temos casos de resistência a glyphosate e a graminicidas.

Abaixo deixei listado para vocês uma tabela com os casos de gramíneas resistentes a herbicidas no Brasil.

Planta daninha Ano Herbicida
Urochloa plantaginea 1997 butroxydim, diclofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop, quizalofop e sethoxydim
Echinochloa crus-pavonis 1999 quinclorac
Echinochloa crus-galli var. crus-galli 1999 quinclorac
Digitaria ciliaris 2002 cyhalofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop e sethoxydim
Lolium perenne ssp. multiflorum 2003 glyphosate
Eleusine indica 2003 cyhalofop, fenoxaprop e sethoxydim
Oryza sativa var. sylvatica 2006 imazapic e imazethapyr
Digitaria insularis 2008 glyphosate
Echinochloa crus-galli var. crus-galli 2009 bispyribac, imazethapyr, penoxsulam e quinclorac
Lolium perenne ssp. multiflorum 2010 iodosulfuron
Lolium perenne ssp. multiflorum 2010 clethodim e glyphosate
Avena fatua 2010 clodinafop
Chloris elata 2014 glyphosate
Echinochloa crus-galli var. crus-galli 2015 cyhalofop, penoxsulam e quinclorac
Eleusine indica 2016 glyphosate
Digitaria insularis 2016 fenoxaprop e haloxyfop
Lolium perenne ssp. multiflorum 2016 clethodim e iodosulfuron
Lolium perenne ssp. multiflorum 2017 glyphosate, iodosulfuron e pyroxsulam
Eleusine indica 2017 fenoxaprop, glyphosate e haloxyfop
Echinochloa crus-galli var. crus-galli 2020 glyphosate
Digitaria insularis 2020 glyphosate, fenoxaprop e haloxyfop

 

Custo com controle de plantas daninhas resistentes

Não é fácil identificar se na sua área já ocorrem plantas daninhas resistentes a herbicidas.

No geral, a suspeita começa quando já temos 30% de plantas resistentes na área.

Uma dica é observar se há plantas vivas ao lado de plantas mortas após a aplicação de herbicidas e se há manchas que não estão sendo controladas.

O risco de selecionar biótipos de plantas daninhas resistentes é reduzido se você adotar as seguintes estratégias:

  • rotação de culturas;
  • rotação de ingredientes ativos dos herbicidas;
  • utilizar mais de uma estratégia de controle de plantas daninhas;
  • utilizar herbicidas em pré-emergência;
  • controlar escapes de plantas daninhas;
  • não deixar a área em pousio;
  • evitar ou reduzir o número de aplicações de herbicidas em que foram registrados casos de resistência na região.

Fonte: Adegas et al. (2017).

Agora vamos ver sobre insetos resistentes a inseticidas.

Insetos resistentes a inseticidas

A problemática de controle de insetos resistentes também existe, e faz com que os custos de produção fiquem mais altos.

A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), por exemplo, apresentou resistência ao inseticida metomil.

Para o controle dessa importante praga da cultura do milho, é preciso realizar a rotação de culturas, rotação de ingredientes ativos de inseticidas, variedades resistentes, adoção de área de refúgio e controle biológico.

O percevejo-marrom (Euschistus heros) é uma importante praga na cultura da soja e, que já foi relatado com resistência a inseticidas organofosforados e ciclodienos (endossulfam).

O controle deve ser feito com rotação de ingredientes ativos e monitoramento para a aplicação.

Percevejo-marrom. Fonte: Promip.

A Helicoverpa armigera foi relatada pela primeira vez no Brasil na safra 2012/2013.

Por ser uma praga polífaga (alimenta-se de diversas culturas), acaba causando muitos prejuízos.

Para piorar, é uma praga com casos de resistência a inseticidas piretróides.

No caso dessa espécie, o controle deve ser feito com culturas resistentes (Bt), adoção de áreas de refúgio, vazio sanitário, inimigos naturais e rotação de culturas.

É possível utilizar também o controle químico, rotacionando ingredientes ativos e evitando inseticidas piretróides e fosforados no início da cultura para preservar os inimigos naturais.

Helicoverpa armigera. Fonte: André Shimohiro (Embrapa).

Como acontece a evolução da resistência a inseticidas?

A evolução da resistência de insetos a inseticidas ocorre quando é utilizado o mesmo produto por muitos anos na lavoura.

Neste processo seleciona-se os insetos resistentes.

Fonte: IRAC.

Observe pela figura abaixo que é muito importante a adoção de áreas de refúgio quando usamos a tecnologia Bt.

Fonte: Pioneer.

Conclusão

No texto de hoje vimos alguns casos de plantas daninhas resistentes a herbicidas e insetos resistentes a inseticidas.

Você aprendeu conceitos de resistência e tolerância e como ocorre o processo de seleção de plantas e insetos resistentes.

Quando temos casos de resistência na área, os custos com controle tendem a aumentar, por isso é muito importante prevenir utilizando o manejo integrado de pragas e o manejo integrado de plantas daninhas.

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Giraldeli. Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (USP) e especialista em Agronegócios. Atualmente Professora Temporária na UEL.

Para ter acesso a mais conteúdos da Conecta Sementes, clique aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.