Biotecnologia: entenda como ela está presente na agricultura

Biotecnologia: entenda como ela está presente na agricultura e como ela é responsável pelo ganho em produtividade.

A biotecnologia está presente em nossas vidas, sendo que na agricultura, está cada vez mais presente. 

Nos próximos anos, de acordo com dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o aumento da produção mundial estará ligado à intensificação do cultivo, expansão em área cultivada e relacionada aos fatores de produção.

Diante desse cenário, tem-se que 14% estará ligado a intensificação dos cultivos, 26% à expansão da área cultivada e 60% aos fatores de produção.

E dentro dos fatores de produção temos várias áreas onde é possível investir para o aumento de produção como em fertilizantes, sementes, defensivos agrícolas e, claro a biotecnologia.

Até o ano de 2022, as plantas corresponderam a 52,5% dos eventos aprovados pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).

ctnbio-approvals

Nesse texto vou te mostrar como a biotecnologia está presente nas lavouras e como ela, junto com demais fatores de produção ajuda a incrementar a produtividade das lavouras. 

 

A biotecnologia nas lavouras de soja

Na cultura da soja, as principais aprovações feitas pela CTNBio são para a tolerância a herbicidas e a resistência a insetos. 

 

Soja tolerante a herbicidas

Na cultura da soja o uso de biotecnologia está diretamente relacionado a tolerância da soja aos herbicidas.

Hoje na cultura há cultivares tolerantes aos herbicidas:

  • glyphosate;
  • glufosinate;
  • 2,4-D;
  • dicamba;
  • isoxaflutole;
  • soja tolerante às imidazolinonas;
  • soja tolerante às sulfonilureias.

 

O uso de cultivares tolerantes a herbicidas possibilita o uso destes produtos sem causar danos à soja.

O uso do glyphosate, por exemplo, um herbicida não seletivo, pós-emergente, de amplo espectro de controle, passou a ser usado também na pós-emergência da soja tolerante (RR).

O 2,4-D, um herbicida mimetizador de auxinas (auxinas sintéticas), muito usado na dessecação pré-semeadura para o controle de plantas daninhas de folhas largas, passa a pode ser utilizado na pós-emergência da soja.

Cultivares de soja tolerantes às sulfoniluréias permitem usar herbicidas inibidores da ALS (enzima acetolactato sintase) no cultivo de soja, sem que haja problemas com injúrias.

 Faz parte dos herbicidas inibidores da ALS, do grupo químico das sulfoniluréias, o chlorimuron, produto muito utilizado para controle de plantas daninhas na cultura da soja.

Lembrando que a soja tolerante a sulfoniluréias não é um evento transgênico, e foi obtida por meio do melhoramento genético convencional. 

A soja tolerante sulfonilureias apresenta maior tolerância a herbicidas desse grupo. A tolerância à molécula e a dose varia com a cultivar.

Já entre os herbicidas inibidores da ALS, do grupo químico das imidazolinonas estão o imazapic e o imazapyr. 

Assim, há mais opções para o manejo de plantas daninhas dentro das lavouras.

Entretanto, algo a estar atento é a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes, por isso, a rotação de mecanismos de ação é muito importante.

Além disso, é preciso fazer a rotação de culturas, escolher as cultivares adequadas para a região, seguir o zoneamento agrícola, fazer o plantio no limpo realizando uma boa dessecação pré-semeadura e não deixar áreas em pousio. 

 

Soja resistente a insetos

Por meio da biotecnologia também foi possível desenvolver a soja Bt (proveniente da bactéria Bacillus thuringiensis), ou seja, a soja resistente a insetos.

A soja resistente a insetos é eficaz contra as principais pragas encontradas nas lavouras de soja:

  • lagartas desfolhadoras: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e falsa-medideira (Chrysodeixis includens);
  • lagartas das vagens:  lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e lagartas do gênero Helicoverpa;
  • Broca-das-axilas ou dos-ponteiros (Epinotia aporema);
  • Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).

Para um bom manejo da soja Bt é preciso ficar atento a pontos importantes.

É preciso fazer uma boa dessecação pré-semeadura, pois plantas daninhas e soja tiguera que ficam na área são responsáveis por hospedar pragas e doenças.

É necessário usar sementes de boa qualidade e fazer o tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas. 

A área de refúgio também precisa ser adotada, para que haja prevenção da seleção de pragas resistentes.

Assim, é recomendado que 20% da área plantada com soja seja soja não Bt.

Nessa área poderão ser feitas aplicações com inseticidas, não passando o limite de duas aplicações. Estas deverão ser feitas com base na avaliação de nível de dano econômico da praga.

O uso de biotecnologia na soja não está só relacionada a plantas daninhas e pragas, mas também quanto ao teor de óleo.

A soja comum tem em torno de 24% de ácidos graxos monoinsaturados, a canola tem aproximadamente 60% e a oliva cerca de 80%.

Trabalhos recentes conseguiram desligar dois genes que transformam a gordura monoinsaturada e poliinsaturada, aumentando o ácido oleico para 80% na variedade geneticamente editada.

Para você ter uma ideia e comparar a soja transgênica tem 70% de ácido oleico.

Com a edição genética também foi possível reduzir de 50% para 4% no nível de gorduras insaturadas (ácido linoleico).

tipos-oleos

A biotecnologia nas lavouras de milho

O milho transgênico foi autorizado no Brasil no ano de 2007 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

Entre os eventos transgênicos mais predominantes das atuais sementes comercializadas estão a resistência às principais pragas e a tolerância a herbicidas.

 

Milho tolerante a herbicidas

Como opções nas lavouras de milho temos a tolerância ao glyphosate, glufosinate, 2,4-D e haloxyfop.

O uso de glyphosate em pós-emergência do milho possibilitou o controle de plantas daninhas com um herbicida não seletivo, de ação sistêmica e de amplo espectro de controle.

O 2,4-D é um herbicida que já pode ser utilizado na pós-emergência do milho, pois ele controla apenas plantas daninhas de folhas largas. Entretanto, há um certo limite, devendo ser aplicado antes de V6.

No estádio V6 (seis folhas completamente expandidas do milho), o meristema apical que dará origem ao pendão, estará acima do nível do solo e aplicações com herbicidas hormonais, como o 2,4-D, não são recomendadas.

Com a tolerância ao 2,4-D é possível aplicações mais tardias.

O haloxyfop é um herbicida graminicida, usado para o controle de plantas daninhas de folha estreita (gramíneas), e o milho é uma gramínea, portanto seu uso em pós-emergência da cultura não pode ser feito.

Com a tolerância ao herbicida é possível controlar plantas daninhas gramíneas na pós-emergência do milho.

Assim, tem-se a possibilidade de mais formas de controle de plantas daninhas na cultura.

E para a manutenção da tecnologia viável é preciso rotacionar os ingredientes ativos utilizados para que não haja a seleção de plantas daninhas resistentes.

 

Milho resistente a insetos

Por meio da biotecnologia foi possível chegar ao milho Bt (resistente a pragas).

O milho Bt expressa proteínas inseticidas que combatem a:

  • lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda); 
  • broca-do-colmo (Diatraea saccharalis);
  • lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea);
  • e a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).

 

Há proteínas que atuam também para o controle de moscas e besouros.

Com isso, foi possível controlar uma das pragas mais importantes na cultura do milho que é a lagarta-do-cartucho.

Com o milho Bt foi possível reduzir o número de aplicações com inseticidas, que antes eram de cinco a seis por ciclo da cultura.

No milho também é preciso adotar as áreas de refúgio para evitar a seleção de insetos resistentes.

O uso do milho Bt é uma das estratégias do manejo integrado de pragas. 

Observe pela figura abaixo que a tolerância a herbicidas e a resistência a insetos foram a maioria dos eventos aprovados pela CTNBio para a cultura do milho.

Além disso, houve a aprovação de milho tolerante à seca, ao calor e restauração da fertilidade.

milhos-transgenicos

Além das culturas de soja e milho há eventos aprovados em outras culturas:

  • algodão;
  • cana-de-açúcar;
  • eucalipto;
  • feijão.

 

Conclusão

A biotecnologia está presente nas lavouras do Brasil, principalmente por meio de plantas tolerantes a herbicidas e resistentes a insetos.

Na cultura da soja e do milho é possível ver a tolerância a vários herbicidas e a resistência a insetos por meio da tecnologia Bt.

Para os próximos anos o grande aumento de produção irá ocorrer devido a fatores de produção, relacionados às sementes, fertilizantes, defensivos agrícolas e ao uso da biotecnologia. 

Gostou do texto? Tem mais informações sobre biotecnologia em soja e milho? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Giraldeli. Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (USP) e especialista em Agronegócios.

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